O economista Silva Lopes, que estava no Governo na primeira intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal, em 1977, e que acompanhou a segunda (1983), disse hoje que, no presente cenário, receia uma eventual intervenção daquela entidade.
«As duas primeiras vezes a intervenção do FMI deu um ‘resultadão’, mas desta vez tenho medo», afirmou Silva Lopes, que participava num colóquio dedicado ao tema da dívida na Assembleia da República.
O economista explicou que, ao contrário das duas anteriores intervenções, Portugal agora só tem como saída o corte das despesas. «Isto vai dar recessão e séria. Vamos ter uma recessão, de certeza absoluta», sublinhou, afirmando discordar das previsões macroeconómicas do Executivo plasmadas no Orçamento do Estado para 2011.
“O Governo deveria dizer que a recessão vem aí. Caso contrário, quando vier, e vem, toda a gente vai dizer que o Governo não a previu”, frisou Silva Lopes.
Sobre as medidas que constam na proposta do Orçamento do Estado para 2011, o economista considerou que “se o Governo não tomar estas medidas, ninguém empresta dinheiro lá fora”.
Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do FMI, defendeu hoje que uma intervenção do FMI implica a aplicação de medidas muito duras, pelo que não é melhor do que entrar numa situação de incumprimento.
“O programa do FMI não é melhor do que a situação de ‘default’ (incumprimento) porque obriga a grandes ajustamentos”, afirmou o especialista, que é também professor da Universidade de Harvard, num colóquio sobre dívida pública promovido na Assembleia da República.
Segundo Rogoff, que falava sobre as causas, consequências e perspetivas de evolução da dívida pública, num evento promovido pela Comissão de Orçamento e Finanças, “a intervenção (do FMI) nos países desenvolvidos não é invulgar, apesar de já não acontecer há muitos tempo”.
Recorde-se que o FMI já interveio em Portugal por duas ocasiões: a primeira em 1977 e a segunda em 1983.
O professor de Harvard disse também que “a explosão do endividamento após uma crise financeira é algo bastante típico”.
De seguida, questionou se “as preocupações sobre a dívida de Portugal são legítimas?”, sublinhando que uma resposta exata precisa de ter dados comparativos.
“Uma coisa é certa. Quando existe uma crise financeira, a dívida dispara”, reforçou.
LE com Lusa