(Brasília) O chefe da agência reguladora Anvisa disse nesta quinta-feira que a recusa do Brasil em permitir a importação de doses da vacina russa, Sputnik V, se baseia em dados fornecidos pelos próprios criadores, que se defendem das acusações de difamação de Moscou.
Antonio Barra Torres confirmou em coletiva de imprensa que “informações sobre a presença de adenovírus com capacidade de replicação constam dos documentos encaminhados à ANVISA pelos criadores da vacina Sputnik”.
Ele refutou as “graves acusações” dos estilistas russos contra a ANVISA, acusados de “mentir, agir de forma antiética e fornecer informações falsas”.
“A base da nossa análise técnica é que as vacinas devem ser seguras. Gustavo Mendes, um dos diretores da ANVISA, insistiu nesta quinta-feira durante a mesma coletiva de imprensa que as vacinas devem proteger e não causar danos.
De acordo com a agência, a informação fornecida pelo laboratório russo Jamali mostrou que a vacina carrega uma versão ativa de um vírus comum que causa resfriados.
Esses resultados “levantam questões sobre a segurança do processo de fabricação” dessa vacina e podem representar um risco para pessoas com sistema imunológico enfraquecido, se o problema for generalizado, segundo estimativas da AFP, virologista norte-americana Angela Rasmussen.
A Agência Brasileira de Saúde (Agência Nacional de Saúde) se opôs na segunda-feira a um pedido de vários estados do Brasil para importar o Sputnik V, alegando que faltava dados para garantir sua segurança e eficácia.
A gestão da agência seguiu a recomendação de seus especialistas citando “incerteza” sobre a vacina, que ainda não foi aprovada pelos órgãos de saúde da União Europeia (EMA) e dos Estados Unidos (FDA).
Os criadores da vacina russa Sputnik V contra o Coronavírus condenaram a decisão “política”. Na manhã de quinta-feira, eles ameaçaram processar a Anvisa por difamação.
Em apresentação postada online, cientistas da Anvisa disseram que testes de amostras da segunda dose do Sputnik V revelaram que o adenovírus era “capaz de se reproduzir”, portanto ainda era capaz de crescer e se multiplicar quando injetado no corpo.
Eles avaliam que essa situação pode ser decorrente de um defeito de fabricação denominado “recombinação”, em que o adenovírus modificado restaurou os genes necessários para sua reprodução quando foi cultivado em laboratório em células humanas artificiais. Eles disseram que testaram apenas a segunda dose da vacina.
Fora da Rússia, esta vacina é usada em muitos outros países, incluindo Argentina, México e Venezuela.
No Brasil, que tem cerca de 400 mil mortes pelo Coronavírus, a vacinação avança muito lentamente devido ao número insuficiente de doses.
Até agora, 28 milhões de pessoas receberam apenas a primeira dose, ou 13,2% da população, e 12 milhões de pessoas.