As fábricas de cerâmica, em Portugal, estão a enfrentar grandes dificuldades no cumprimento das emissões de dióxido de carbono (CO2). O problema afecta, sobretudo, as empresas da cerâmica estrutural, onde se inclui a produção de materiais para a indústria da construção civil, como azulejos, tijolos e telhas.
A manutenção dos níveis de emissões de CO2 nos patamares definidos no protocolo de Quioto e que, simultaneamente, respeitem o Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão (PNALE), «é uma exigência que agrava a capacidade competitiva das indústrias nacionais», afirmaram ao DN os responsáveis das empresas.
Para João Marques, administrador da Margon, fábrica de barro vermelho da zona de Leiria, a questão das emissões «é um problema muito sério», especialmente porque «tem que ser visto e relacionado com os restantes custos de produção».
Ora, se os preços dos combustíveis, em que o gás natural representa uma factura «elevada», de acordo com João Marques, «constituem um factor de desigualdade das nossas empresas e dos seus produtos nos mercados internacionais, as razões de preocupação aumentam, quando temos de enfrentar outros factores que agravam, ainda mais, a nossa capacidade e a nossa competitividade».
Na sua opinião, o governo português deveria empenhar-se a sério na revisão dos critérios do PNALE, ideia partilhada por outros industriais, para os quais é incompreensível a diferença de tratamento e de condições entre as empresas instaladas em Portugal e em Espanha.
«Os critérios definidos para as unidades portuguesas são muito mais apertados», acrescentou João Marques, cuja fábrica destina cerca de 80% do total da produção ao mercado nacional.
Do mesmo se queixa Umbelino Monteiro, de Pombal, que exporta telhas para 16 países, mas que, recentemente, perdeu «uma encomenda de dois milhões para o Dubai, porque houve uma empresa espanhola que conseguiu chegar a preços que para nós são inacessíveis», queixou-se.
Umbelino Monteiro questiona igualmente os critérios vigentes. Mas o empresário de Pombal discorda, sobretudo, do processo de licenciamento, porque se diz «prejudicado». No seu caso, tem uma licença para emitir nove mil quilotoneladas de CO2, quando as necessidades da sua produção exigem chegar à casa das 16 mil. «Se a isso se somarem os custos dos combustíveis», sublinha Umbelino Monteiro, «veja o esforço e os sacrifícios que somos obrigados a fazer para manter as empresas com saúde e a competir num mercado que nos é cada vez mais desfavorável».